Amor pelos dois Sexos

16 Nov

Por Isadora Puppo

Sharon Stone estava numa festa em Hollywood quando desapareceu acompanhada de uma atraente mulher. As duas só voltaram muito depois…a sobremesa já estava sendo servida. Sua secretária se encarrega de marcar todos os seus encontros amorosos. Essas informações foram divulgadas pelo jornal ‘Sunday Mirror’ e fazem parte da biografia não-autorizada da atriz. Outra estrela americana, Jodie Foster, teve seu desejo sexual por mulheres revelado num livro escrito por seu próprio irmão. Entrevistada pelos jornais, declarou: “Tive uma ótima educação, que nunca me fez diferenciar homens e mulheres.” Esses são apenas alguns exemplos dos incontáveis casos de bissexualidade conhecidos.

As estatísticas mostram que a grande maioria das mulheres já sentiu ou sentem, de alguma forma, desejo por ambos os sexos. Pesquisas indicam que nos Estados Unidos mais de 60% das mulheres casadas, durante toda a vida de casadas, se envolveram em sexo regular com outras mulheres. Seríamos todos bissexuais dependendo apenas da permissividade do nosso meio social? Para Freud o ser humano é biologicamente bissexual. Nasceríamos com um impulso sexual dirigido tanto para pessoas do sexo oposto como para as do mesmo sexo.

O pesquisador americano Alfred Kinsey acredita que a homossexualidade e a heterossexualidade exclusivas representam extremos do amplo espectro da sexualidade humana. Para ele a fluidez dos desejos sexuais faz com que pelo menos metade das pessoas, sintam, em graus variados, desejo pelos dois sexos. Entretanto, essas sempre foram acusadas de indecisas, de estar em cima do muro, de não conseguir se definir. Os heterossexuais costumam ver a bissexualidade como um ‘estágio’ e não como uma condição alcançada na vida. Muitos gays e lésbicas desprezam os bissexuais acusando-os de insistir em manter os “privilégios heterossexuais” e de não ter coragem de se assumir. Por isso, é comum esconderem a sua dupla orientação na tentativa de se proteger das críticas.

Em 1975, a famosa antropóloga Margareth Mead declarou: “Acho que chegou o tempo em que devemos reconhecer a bissexualidade como uma forma normal de comportamento humano. É importante mudar atitudes tradicionais em relação ao homossexualismo, mas realmente não deveremos conseguir retirar a carapaça de nossas crenças culturais sobre escolha sexual se não admitirmos a capacidade bem documentada (atestada no correr dos tempos) de o ser humano amar pessoas de ambos os sexos.”

Porém, a aceitação social da bissexualidade sofreu um retrocesso na década de 80, com o surgimento da AIDS. Os bissexuais foram acusados de gays enrustidos, que estariam disseminando o vírus HIV, inclusive para as próprias esposas. É fundamental que não se confundam valores morais impostos socialmente — como a heterossexualidade — com uma epidemia que pode ter seu contágio controlado com o uso de preservativos. É mais provável que o aumento de casos de AIDS entre pessoas casadas esteja diretamente relacionado aos preconceitos e idéias equivocadas sobre fidelidade. Fica difícil um homem bissexual inserir o uso da camisinha no sexo com a esposa.

Tudo é uma questão cultural. Veja esse exemplo da Grécia Clássica (século V a.C.): a iniciação sexual de um jovem se dava com o seu tutor. E era considerado natural que os cidadãos gregos casados e respeitáveis tivessem relações sexuais com as esposas, as concubinas, as cortesãs e os efebos (jovens rapazes).

Marjorie Garber, professora da Universidade de Harvard, que elaborou um profundo estudo sobre o tema, compara a afirmação de que os seres humanos são heterossexuais ou homossexuais às crenças de antigamente, como: o mundo é plano, o sol gira ao redor da terra. Acreditando que a bissexualidade tem algo fundamental a nos ensinar sobre a natureza do erotismo humano, ela sugere que em vez de hetero, homo, auto, pan e bissexualidade, digamos simplesmente ‘sexualidade’.

Será que o amor pelos dois sexos se tornará uma opção cada vez mais comum a ponto de predominar? A bissexualidade, como muitos afirmam, vai ser mesmo o sexo do futuro? Claro que sim.

Gosto não se discute

O imaginário sexual é um prato cheio para a antropologia. Distâncias geográficas, temporais e religiosas distinguem brutalmente os conceitos que os povos têm sobre a cópula, o prazer, a moral e as técnicas sexuais. Isso porque os seres humanos, diferentemente de outros mamíferos, raramente fazem sexo em público. Em geral, precisamos que nos seja dito (ou mostrado) o que fazer. Essa, certamente, é uma das razões pelas quais o modo como fazemos sexo é aprendido, assim como outros fatores da vida privada – usar garfo e faca, assoar o nariz ou tomar banho, por exemplo.

Além disso, a sexualidade também obedece a critérios individuais. O gosto sexual, sustentam sexólogos, é similar às preferências e aversões que nutrimos por determinados alimentos; podem ser predileções particulares ou variar entre as culturas. A posição “missionária” (a mulher deitada com o homem por cima) é vista no Ocidente como a mais natural – os missionários cristãos até mesmo insistiam para que os convertidos usassem somente essa, daí o nome. Mas representações antigas, mostram quase sempre a mulher por cima ou de quatro, raramente no famoso “papai-e-mamãe”.
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Sociedades diferentes também têm códigos diferentes de conduta sexual, mas em todas as sociedades os indivíduos cometem transgressões. A idéia de que há uma linha sexual que não deve ser ultrapassada, mas que o é na prática, é muito mais antiga do que a história da tentação de Eva pela serpente.

“O ser humano não tem cio”, “Como a sexualidade está à disposição 30 dias por mês, bastando estar a fim, algumas “leis” surgiram para impedir que a manifestação da sexualidade seja exagerada, sem limites.”

O limite do permitido e do proibido não está inscrito em lugar nenhum de maneira definitiva. Por isso, os tabus estão permanentemente sujeitos a revisão. Abdo lembra que essas leis sempre outorgaram poder para que o país ou a igreja tivesse controle cultural sobre o povo, ou seja, não surgiram espontaneamente. “Regras alimentares não precisam ser tão rígidas porque seus efeitos são particulares. Já a sexualidade é relacional, afeta terceiros”,por isso tanto alarde desnecessário. Pratiquem sexo!

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